
A Syrah, também conhecida como Shiraz, é uma das seis variedades de uvas tintas mais cultivadas no mundo. Considerada uma das cepas mais antigas da humanidade, sua origem se perde no tempo desde a época da antiguidade clássica pelas terras do Oriente Médio. No entanto, o primeiro registro oficial do cultivo da cepa data apenas do século XII, momento em que ela aparece como um cruzamento natural entre a Mondeuse Blanche, branca, e a Dureza, tinta, na França.
Foi no Vale do Rhône, no sul do país, no entanto, que a uva se adaptou e se diferenciou de suas ancestrais, se tornando a base de importantes vinhos tintos produzidos nas regiões de Hermitage e Côte Rôtie.
Do Rhône, a Syrah se espalhou pelo mundo, se adaptando aos terroirs mais diversos e aos climas mais extremos, a ponto de ser cultivada hoje em quase todos os continentes do globo. Encontramos vinhedos da cepa da região litorânea do Chile, aos pés dos Andes na Argentina, e até nas planícies secas da Austrália, onde inclusive surgiram os vinhos que tornam a variedade internacionalmente famosa.
Os vinhos produzidos com a uva apresentam sabores de frutas e azeitonas pretas e aromas de especiarias apimentadas, com taninos e acidez médios e um bom corpo. Por isso se diz que os vinhos da Syrah possuem tanta personalidade. Nos vinhos do Novo Mundo, as notas são de frutas maduras e especiarias doces, como canela e cravo, além de notas florais. Já nos vinhos do Velho Mundo as notas são de frutas frescas e de pimenta-preta, além de notas terrosas e herbáceas, e acidez mais acentuada. Seus vinhos costumam passar sempre por barris de carvalho, e seus vinhos podem – devem – ser comprados para guarda.
Por ser uma cepa muito adaptável, e bastante resistente a doenças, a Syrah pode ser cultivada em partes do mundo com climas e terroir bastante distintos. No entanto, foi em Barossa Valley, na longínqua Austrália, onde ela melhor se adaptou fora da França.
Vamos, a seguir, falar sobre as principais regiões vinícolas do mundo da Syrah:
Norte do Vale do Rhône
O Vale do Rhône é uma das mais importantes regiões vinícolas francesas que se formaram ao longo dos rios que cortam o país. A diferença para outras regiões, como o Vale do Loire é que aqui, o carro-chefe são os encorpados vinhos tintos. A porção norte do Vale, responsável por um décimo da produção de vinhos da região e onde encontramos os rótulos de qualidade excepcional, possui um clima muito mais verde do que o sul mediterrânico. Seu terroir é formado por terraços de granito, com elevações e encostas ao londo do vale do rio.
A uva mais importante dessa região francesa é a Syrah, responsável pelos vinhos de cor profunda, aromáticos e com mutos taninos. Outras castas que também são cultivadas na região são a branca Marsanne e as tintas Roussanne e Viognier, todas utilizadas em pequenas porcentagens nos vinhos da Syrah.

Capela no alto da colina Hermitage
A colina Hermitage, um importante afloramento granítico no Vale do Rhône, é uma das mais conhecidas apelações da região. Com apenas 130 hectares, o Hermitage é composto por terraços de granito de cerca de 350 metros de altitude, que se beneficiam enormemente da proteção dos ventos frios do norte e da exposição solar resultante da face sul e do solo granítico. A Syrah – única cepa plantada ali – é a grande beneficiada das características desse terroir.
Devido ao seu terreno íngreme, é impossível inserir qualquer mecanização, e o Hermitage sofre com a erosão dos seus solos causada pela chuva. No entanto, os vinhos da região são conhecidos por serem especiais desde a época dos romanos. Para se ter uma ideia, o Hermitage foi bastante utilizado no passado para fortalecer os bordeauxs tintos.
Embora seja uma única colina, o Hermitage divide-se em pequenos outros terroirs, cada um com climas próprios. Os vinhos resultantes, embora sejam cortes de diferentes altitudes, possuem características marcantes dependendo de sua origem: sei mais ao topo, se mais ao vale.
O vinho tinto Delas Frères Cozes-Hermitage Grands Chemins 2011 conquistou 92 pontos na escala Robert Parker. Com notas vigorosas de cereja-preta, amora, mirtilo, é um rótulo que tem muita presença de especiarias, como zátar e cravo.
Austrália
A Austrália conseguiu se tornar, em apenas poucas décadas, um dos maiores produtores de vinho do mundo. Com mercado consumidor pequeno, cerca de 60% de sua produção é voltada para o mercado externo. Devido ao clima impiedoso do país – quente e seco em sua maior parte, a Austrália depende totalmente da irrigação para manter os seus vinhedos.
A variedade mais plantada da Austrália é a Syrah, conhecida localmente como Shiraz ou até mesmo Hermitage Após décadas de plantio das mais variadas cepas, percebeu-se que essa é a uva que melhor se adaptou ao clima e solo australiano. Inclusive o país foi o maior responsável pela fama da casta após o boom de seus Syrahs dos anos 1980 e 1990, que tornou seu nome tão importante no mundo dos tintos quanto a Cabernet Sauvignon e a Merlot. O grande responsável por isso foi o vinho australiano Penfolds Grange, ganhador de diversos prêmios, como melhor vinho do ano pela revista Wine Spectator em 1995, e até hoje considerado um dos melhores Syrahs do mundo.

Vinhedos da vinícola Heartland Wines
Hoje, o país tem a segunda maior área plantada da uva do mundo, perdendo apenas para a França. com 42 mil hectares, o que representa um quarto de todos os vinhedos do país, e Barossa Valley é a grande região produtora, assim como os vales de McLaren e Hunter.
Os vinhos australianos feitos da uva são bem diferentes dos franceses, mais cremosos e mais frutados, seus aromas são de groselha e de cerejas pretas.
O vinho tinto Hearland Shiraz 2013 é elaborado por vinhedos de duas regiões distintas: Langhorne Creek e Limestone Coast. Este Shiraz apresenta notas de chocolate, pimenta e tabaco no nariz e é ideal para acompanhar paleta de cordeiro assada e carnes vermelhas grelhadas.
África do Sul
A África do Sul começou a cultivar a Syrah ainda no século XVIII. Bernard Podlashuk é considerado o pai da Syrah na África do Sul, já que foi responsável por engarrafar o primeiro vinho varietal da uva em Franschhoek, pela vinícola Bellingham, em 1957. No entanto, a uva só ganhou notoriedade a partir da fama dos Syrahs australianos, muito tempo depois. Hoje pode-se encontrar vinhedos da cepa em quase todas as grandes regiões vinícolas – são 10,5 mil hectares de vinhedos da variedade, quase metade do cultivo do país.
Para se ter uma ideia do rápido crescimento de sua popularidade, a uva passou de 4% do cultivo sul-africano em 1999 para mais de 10% em 2013. Nenhuma oura casta teve seu cultivo crescendo à uma taxa tão rápida quanto ela. Espera-se que, com a maturidade destes vinhedos, a qualidade dos vinhos cresça cada vez mais.
As principais regiões produtoras de vinhos Syrah são Paarl, Stellenbosch e Swartland, essa última ganhando fama por seus cortes de Syrahs no estilo do Norte do Rhône.
Embora os vinhos produzidos tenham estilos bastante diferentes, todos eles passam por madeira e apresentam um cor púrpura profunda, com notas de frutas vermelhas, defumado e pimentas, e envelhecem muito bem. Os Syrahs sul-africanos harmonizam bem com pratos de carnes vermelhas de sabores fortes e carnes defumadas.
Da região de Stellenbosch, o Vinho Tinto Remhoogte Valentino Shiraz 2011 tem sabores de fruta negra em compota. Simplesmente cativante!
Argentina
Desde que chegou na Argentina, a Syrah tem sido utilizada principalmente em cortes de outros vinhos tintos. No entanto, na última década, os enólogos passaram a dar mais atenção à essa variedade produzindo excelentes vinhos varietais. Duas regiões argentinas se destacam no cultivo da cepa: Mendoza e San Juan.
Em Mendoza, principalmente no Vale do Uco, a uva tem se desenvolvido muito bem no clima frio, produzindo vinhos 100% Syrah frutados. Mas é no Vale de Tulum, em San Juan, que a cepa melhor se adaptou ao terroir argentino, sendo beneficiada com a forte incidência solar ela resulta em vinhos bastante estruturados. Hoje a região se dedica quase que exclusivamente ao seu cultivo.
Os Syrahs argentinos são vinhos marcados por frutas escuras, notas florais e especiarias. Harmonizam muito bem com pratos apimentados, como um filet au poivre.
O Vinho Tinto Escorihuela Familia Gascón Syrah 2015 tem sabores de frutas frescas e harmoniza perfeitamente com costela suína assada com ervas e churrasco com molho barbecue.
Chile
Deixamos para falar da Syrah chilena por último por um motivo: o país espremido entre os Andes e o Oceano Pacífico apresenta, hoje, a expressão mais ousada da variedade. O motivo do destaque que seus vinhos têm ganhado no mercado internacional se dá pelo fato de que a cepa está sendo plantada em terroirs bastante inusitados: regiões costeiras bem próximas ao mar e de clima frio.
Embora seja um país estreito, o Chile é um dos mais extensos do mundo, e seu território apresenta uma variedade impressionante de climas diferentes. Muitas regiões estão sendo descobertas agora, enquanto existe um número ainda maior de locais a serem descobertos.
A Syrah é uma uva de clima quente, rústica e resistente. Embora nascida no Vale do Rhône, próximo dos Apeninos, o solo de calcário torna a insolação solar forte e, consequentemente, o terroir quente. A vinícola Matetic, no entanto, resolveu inovar: produzir vinhos chilenos varietais com uvas cultivadas em uma região costeira e fria, o Vale de San Antonio. O resultado é surpreendente: vinhos mais aromáticos, com sabores mais frescos e complexos, e maior acidez!
Para provar o verdadeiro sabor da Syrah chilena, indicamos um vinho da inovadora vinícola Matetic, o Corralillo Syrah 2013. Esse rótulo possui sabor intenso de licor de cassis, pimenta-preta e especiarias doces.
Vinho Tinto Matetic Corralillo Syrah 2013 750 mL