Foram provavelmente os romanos que plantaram as primeiras vinhas, na época em que a região se chamava Panônia. Os Húngaros, povo nômade vindo da Ásia nos séculos IX e X, desenvolveram a vinha nos séculos seguintes. A partir do século XVIII, a Hungria, unida à Austria, assegurou a difusão de seu vinho mais famoso, o Tokaji. Esta maravilha vínica já era reconhecida na época de Luís XIV por seu aroma rico e seu caráter doce e ao mesmo tempo refrescante. A história conta como foi produzido pela primeira vez o suntuoso Tokaji Aszú com uvas botritizadas, de maneira metódica e não por acaso, por Szepsy, capelão da família Rákóczi no vinhedo chamado Oremos, em 1650. Conta também que, em 1703, o príncipe patriota Rákóczi da Transilvânia usou o Tokaji para adular Luís XIV para obter apoio contra os senhores feudais. Na realidade sabe-se que na época devido propriedades fortificantes e sua exuberante característica aromática e gustativa fez com que todo nobre desejasse uma garrafa na cabeceira da cama. O Tokaji foi o primeiro vinho do qual se sabe ao certo que foi feito com uvas botritizadas ou “nobremente apodrecidas”, mais de um século antes que o vinho do Reno e talvez dois antes do Sauternes. As condições que causam a podridão, a murchidão das uvas e a intensa concentração do açúcar, do ácido e do sabor nelas são endêmicas na região de Tokaj. A cadeia de montanhas Zemplén é vulcânica e surge repentinamente na forma de cones a partir da borda norte da grande planície. Os rios Bodrog e Tisza convergem na ponta sul da cadeia, onde o monte Kopashegy se eleva sobre as aldeias de Tokaj e Tarcal. A planície é fonte de quentes ventos de verão; as montanhas dão abrigo e os rios geram neblinas que pairam no outono e favorecem a ação da botrítis. O mês de outubro costuma ser ensolarado. Das três variedades de uva hoje cultivadas em Tokaj, cerca de 70% são Furmint, que tem pele fina, sabor penetrante e maturação tardia, sendo sumamente propensa à infecção do fungo da botrítis. Mais precisamente o Tokaji é feito mediante um exclusivo processo de duas etapas. A safra começa no fim de outubro. As uvas Aszú murchas e outras não afetadas e carregadas de sucos são colhidas ao mesmo tempo, mas ficam separadas. Depois , estas últimas são prensadas e fermentadas para produzir diversos tipos de vinho seco ou semi-seco, inclusive um poderoso vinho base. Enquanto isso, as uvas Aszú ficam armazenadas formando uma pilha quase seca, vertendo aos poucos a FABULOZA ESZENCIA, um suco com até 850g/l de açúcar que é reverenciado com o maior tesouro da região. Quando a colheita chega ao fim, o vinicultor embebe as uvas Aszú esmagadas durante 16 a 36 horas em mosto fresco ou vinho base parcial ou totalmente fermentado, na proporção de um quilo para cada litro, antes da prensagem. A fermentação começa e é controlada por uma combinação do teor de açúcar e da temperatura da adega ( quanto mais alto o primeiro e mais baixa a segunda, mais lenta é a fermentação). Os vinhos mais ricos e finos mantêm o mais alto grau de açúcar natural e, por consequência, o mínimo teor de álcool. O nível de doçura ainda é expresso pelo número de puttonyos ( baldes de 20 kg usados no vinhedo) de aszú adicionados a 137 litros (um barril gonci) de vinho base, embora na atualidade a medição convencional seja feita em gramas de açúcar residual por litro. Usa-se a palavra “lenda” com maior frequência com relação ao Tokaji do que qualquer outro vinho, e seu conceito vínico ecoa no tempo como o rei dos vinhos e o vinho dos Reis.
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